terça-feira, 28 de agosto de 2007

Escola Brasileira de Psicanálise- São Paulo

Seminário Conjunto

O possível e o impossível no amor

Cristiana Gallo - Eduardo Benedicto - Emmanuel Mello - Fernando Prota -

Maria Célia R. Kato - Mauro Moura Mohan - Paola Salinas - Sílvia Sato

“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Drummond denuncia o desencontro do amor, que apesar disso (ou por isso) enlaça a todos numa mesma oração sem vírgulas, numa mesma “Quadrilha”. Enlaça até mesmo à Lili, que se inclui aí pelo que não ama. Pela vertente da religião, o apóstolo Paulo declara que o “amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera”. Os religiosos e os poetas, cada um ao seu modo, proclamam as virtudes e os desabores do amor. Os apaixonados bendizem o amor, mas também lamentam a esperança de um dia, quem sabe, “amar em paz”. Não há quem não sofra suas conseqüências, desde o sofrimento de um amor devastador até a angustiante falta de amor.

E o que a psicanálise tem a dizer sobre o amor? Existe uma forma melhor de amar? O amor descartável e sem compromissos é uma solução? Ou é melhor, então, não amar? O amor é a solução para a violência crescente? É a solução para as drogas? O que é possível no amor? E o que é impossível? Estas são questões sérias e importantes para os desafios contemporâneos da clínica psicanalítica. Uma clínica que, segundo Freud, abre para o sujeito a possibilidade do amor e que para Lacan, inaugura um Novo Amor.

Emmanuel Mello

Início 30/08 - 19:30h

Local: Casa Lacaniana (Rua João Godoy, 244, Jd. América, Ribeirão Preto)

Informações 3623-0210

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A Sociedade o desafio do uso abusivo de drogas na Juventude

Vivemos um mal-estar social diante do qual quase sucumbimos em acreditar que nada poderemos fazer. A questão da droga (e com este termo incluindo sempre os etílicos) na juventude vem sendo constantemente alvo de debates na televisão, no rádio, nos jornais, nas salas de aula, nas igrejas, nos esquinas, nos sofás, nos telefones e etc...

Por vezes parece que não há mais nada o que fazer para livrar nossas crianças e adolescentes das armadilhas nefastas da droga e daqueles que ganham muito dinheiro com elas. Além disso, toda violência, rebeldia e delinqüência promovidas especialmente por jovens causa-nos sempre a suspeita de que algum nível de consumo de drogas estará envolvido. Partimos da idéia de que só a droga pode induzir as pessoas a cometerem tantos desatinos.

Neste momento, incorremos num erro muito comum quando estamos diante de uma questão que nos mobiliza e nos angustia. Partimos para a alternativa que mais imediatamente nos traga uma nesga, um fio que seja, de esperança. Essa alternativa não precisa necessariamente ser eficaz, pois deve servir somente para acalmar a alma com qualquer coisa que possa, ainda que de longe, ser ou prometer uma solução para o problema.

Um mal-estar no sujeito

Soluções deste tipo são o que poderíamos chamar de soluções sintomáticas. São soluções que os sujeitos encontram para sua vida e que em grande parte, apenas servem para postergar uma solução de fato. Em alguns casos, essas soluções se sustentam como uma alternativa viável durante muito tempo, em outros, no entanto, elas podem ser fontes de ainda mais sofrimento e angústia.

No tratamento de toxicômanos percebemos que, em vários casos, a substância química serve para resolver um conflito interno ao sujeito o que nos leva a concluir que o recurso à droga e ao álcool também pode ser uma solução sintomática.

Porém, cada um se vale da droga e do álcool por um motivo muito particular, tão particular que a qualidade e a intensidade do conflito será diferente para cada pessoa. Há os que se drogam para esquecer uma dificuldade; há os que se drogam para ter prazer; há os que se drogam para ver a vida mais “colorida”; há os que nem sentem tanto prazer mas se drogam mesmo assim pois, simplesmente, não conseguem parar de repetir.

Há os que se drogam para serem aceitos; há os que se drogam para serem reconhecidos; há os que se drogam para serem alguém – “pois, pensam, nessa vida é melhor ser um ‘casqueiro’ do que não ser nada”.

Há os que se drogam para acabar com a angústia e com a infelicidade; há os que se drogam porque os pais não estão presentes; há os que se drogam porque os pais são presentes demais; há os que se drogam pra serem diferentes e há os que se drogam para serem iguais.

Há os que se drogam para ficarem “muito loucos” e há os que para não enlouquecer, se drogam.

Um mal-estar social

Ocorre que socialmente também existem soluções sintomáticas. Em geral a sociedade, às vezes de forma legítima, pede soluções urgentes para os seus problemas. Mas nem sempre essas soluções são as melhores ou levam à verdade. No caso da droga e principalmente do uso de drogas por parte dos jovens, a situação não é diferente, principalmente quando diante dela está um ser humano que apesar de um futuro imenso pela frente parece estar com seus dias contados.

É impossível não nos perguntarmos sobre o que poderia levar um sujeito a optar por um caminho tão destrutivo. O que faz com que uma pessoa possa se entregar tão cegamente a uma repetição incessante, tão compulsiva? Será somente o prazer? Ou será que há no dependente um desprazer, um mal-estar que o faz recorrer à droga como uma solução? Será somente o desregramento, a delinqüência, a rebeldia que conduzem os jovens por estes caminhos tão tortuosos? E mais ainda, será que não podemos fazer nada para estas pessoas?

São questões que causam, também naqueles que não são adictos, uma angústia, um mal-estar que, por sua vez, tem gerado em toda a sociedade um estado de sobressalto constante. Praticamente todos os dias surgem nos veículos de comunicação inúmeras promessas de soluções novas para o mesmo problema. São tantas soluções que ninguém sabe o que fazer. Buscam-se culpados e vilões que podem ser desde a televisão até os próprios pais.

Tanta informação tem produzido uma sociedade confusa, professores amedrontados e pais culpados e ansiosos. Uma série de cartilhas e precauções são propostas aos pais e educadores que incluem desde o monitoramento mais constante dos filhos, celulares com rastreadores GPS, vistorias regulares nos olhos, nos cadernos, nas mochilas além daquelas intermináveis conversas, os famosos “diálogos entre pais e filhos”.

Um mal-estar na família

A família sente-se culpada e os pais de uma forma geral, ao saberem do uso de drogas de seus filhos, começam sempre pela pergunta mais fácil: onde foi que eu errei? Os filhos não são os pais e por isso fazem escolhas diferentes – o que não deixa de ser uma angústia para os pais, pois nenhum pai ou mãe quer que o filho faça escolhas destrutivas.

É claro que torna-se importantíssimo, inclusive para a própria família, que ela possa perceber como, em alguns casos, existe uma dinâmica, um “mise-en-scène”, um modo de funcionamento familiar onde o toxicômano entra com um papel definido: o de elemento angustiante, sintoma familiar. A família deve procurar perceber as situações onde ela, ou parte dela, coopera para a manutenção do toxicômano nessa posição indefinidamente. Porém, não se trata de culpar a família, os pais, os irmãos ou os avós de uma escolha que, em última instância é do próprio usuário, mas de fazê-los perceber suas responsabilidades.

Em geral temos muita dificuldade em diferenciar culpa de responsabilidade. O sujeito que se sente culpado, o que ele deseja é ser absolvido. Nessa posição, em geral, o sujeito espera do outro a solução do seu problema. Os pais culpados de hoje em dia, não sabem o que fazer e, desfazendo-se de suas responsabilidades, transferem a tarefa de cuidar dos filhos para equipamentos sociais como a escola, a justiça ou a igreja.

Com a culpa, o que era para ser um diálogo, torna-se uma inquisição ou então uma sessão verborrágica com discursos intermináveis e angustiantes, regidos não pela vontade de saber mas por justificativas incessantes que não visam nada mais que aliviar a culpa mesma. O diálogo envolve, muito mais que conversa, uma escuta e esta nunca está presente quando há a culpa. A escuta é necessária não apenas para acolher com suavidade, mas também para repreender com energia e rigor (o que nunca é a mesma coisa que violência), pois ambas as coisas devem ser feitas no momento onde elas poderão surtir um efeito positivo. Como saber este momento se não escutando?

Alguém pode estar, a esta altura, se perguntando: “o problema real não seria a frouxidão, a falta de autoridade com que os pais se colocam diante dos filhos hoje em dia?”. Esta é certamente uma questão legítima, mas novamente, não pode ser respondida com soluções mágicas. Há, nos dias de hoje, indiscutivelmente, uma crise de autoridade. E ela não afeta somente os pais, mas de forma avassaladora também os filhos. O problema é que a autoridade só pode ser exercida sobre quem a reconhece e hoje, o difícil, o complicado é que todos nós não lidamos com as “autoridades” como lidavam nossos avós.

Estamos, que fique claro, diante de uma questão que não é simples e que exige um espaço dedicado somente a ele. Mas o que importa neste momento é concluirmos que a questão da toxicomania não pode ser reduzida a uma questão de rebeldia ou má educação.

Um mal-estar na rede pública

Na tentativa de encontrar uma solução, são questionadas também as responsabilidades dos governantes e da rede saúde. A grande e perigosa solução que se encontra na maioria das vezes é a da internação, isto é, um lugar onde se possa “proteger” esse menino ou essa menina. Aqui é necessário fazer um alerta: em alguns casos, a solução da internação esconde, na verdade, uma necessidade social de manter seus problemas afastados à boa distância. Essa atitude reedita, no campo da drogadição, a mesma exclusão que se pretendia com a loucura e que toda luta anti-manicomial veio denunciar. Mais uma vez nos vemos diante de uma recusa à escuta.

A internação deve ser usada sempre que necessário e é importante que existam equipamentos públicos disponíveis para isso, no entanto não se pode tomá-la como paradigma de tratamento para a drogadição sob pena de acabarmos repetindo institucionalmente a mesma armadilha da toxicomania, a saber, a interdição do sujeito que impede que ele apareça, que tenha voz, que fale sobre seu sofrimento. Permitir que a segregação seja tomada como solução ao problema da toxicomania é apenas repetir os efeitos da substância no sujeito que dela se vale: um desaparecimento.

O modelo de assistência desenvolvido no CAPS-ad* é um exemplo bem-sucedido de que na maioria dos casos a internação integral é desnecessária, ou até mesmo, mais do que isso, contra-indicada. Existem inúmeros CAPS-ad espalhados por vários municípios do país com resultados expressivos. O usuário de drogas pode (e em muitos casos deve) continuar mantendo seus vínculos sociais, familiares e ocupacionais. Para isso, o CAPS-ad dispõe de um tratamento aberto onde o tempo que o sujeito passa na instituição vai depender do caso particular que ele apresenta.

Em Ribeirão Preto o CAPS-ad funciona há onze anos tendo atendido, pelo SUS, a mais de 4800 pacientes de todas as idades. E é justamente para melhorar o atendimento à população de crianças e adolescentes que o CAPS-ad estará realizando nos dias 14 e 15 de setembro um simpósio cujo tema será “Juventude e drogadição: um mal-estar contemporâneo”. O local será um dos auditórios gentilmente cedidos pelo Sistema COC de Ensino na rua Lafaiete, 261

Trata-se de um evento importantíssimo para a elaboração de uma prática mais esclarecida no que diz respeito à assistência ao jovem usuário de drogas.

Emmanuel Mello

Psicólogo da Equipe Multidisciplinar do CAPS-ad

*CAPS-ad (Centro de Atenção Pisicosocial para usuários de álcool e outras drogas) situado à rua Pará, 1310, Ipiranga (3615-3336). O CAPS-ad de Ribeirão Preto é um serviço do Sanatório Espírita Vicente de Paulo em parceria com a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007


Nas ruas de Buenos Aires, o encontro com um homem petrificado.

A crise da verdade e da esperança


“Esqueçam tudo o que eu escrevi” alertou um presidente da república ainda no primeiro biênio de seus oito anos de governo. “Ser oposição é uma coisa, governar é outra coisa bem diferente”, diria o seu sucessor. Para além de todas as implicações e complicações da árdua tarefa de governar um país, o que estas declarações apontam é para o caráter transitório, relativo e limitado não só da política brasileira mas da própria condição humana. Não se trata apenas do fato de que alguns deliberadamente deixam de acreditar (se é que acreditavam) naquilo que dizem. O que acontece é que, hoje, mais do que nunca, pouca gente consegue afirmar com toda certeza que a sua teoria será válida para todos os lugares e para todos os tempos.

Todas as épocas portam os desafios e as possibilidades que lhe são peculiares. Muito cuidado, portanto, antes de nos deixarmos tomar por qualquer saudosismo ressentido do tipo “naquele tempo isso não era assim!”. De fato, “isso” não é “assim” — bom ou mal que seja — de forma permanente. Desde Heráclito, filósofo grego do século IV a.C. o devir é a marca da existência humana. “Um homem não pode entrar num rio duas vezes, posto que nem o rio, nem o homem será o mesmo”, acreditava. Mas o pensamento de Heráclito foi engolido pela posição mais cômoda de Parmênedes, também filósofo grego, que se contrapunha ao devir por uma questão de ordem prática: se o ser está em constante movimento, nenhum conhecimento é possível. Parmênedes nos devolve, com isso, aquela esperança de que as coisas podem, em algum momento, encontrar o seu lugar e não nos pegar mais de surpresa, com mudanças inesperadas.

Na mordenidade, a civilização ocidental se depara com uma pergunta constrangedora: afinal, o que é a verdade? A partir deste momento ficou claro que assumir uma posição de certeza sobre o que quer fosse seria muito complicado. Conceitos como moral, justiça, autoridade começaram a perder seu lugar de inquestionabilidade.

Se por um lado o pensamento moderno nos possibilitou avanços sociais e intelectuais inquestionáveis, por outro, nos legou problemas sérios. O mundo de hoje convive com uma angústia que herdou destas questões surgidas na modernidade.

Vivemos o que se convencionou chamar de “queda das utopias”. Ninguém acredita muito, ou durante muito tempo, em qualquer ideologia que se levante com a promessa de mundo perfeito. A “verdade” se tornou um conceito que, por mais desejado que seja, sempre deixa uma pontinha de dúvida. Não é mais tão fácil acreditar em políticos honestos e em governos transparentes. Perdemos a capacidade de simplesmente acreditar em promessas. “Perdemos a ingenuidade”, dizem alguns. “Alguém sempre esconde alguma coisa”, proclamam outros. “Ninguém é totalmente puro e verdadeiro naquilo que faz ou diz”, completam.

Disso decorre um efeito dos mais complicados de nossas sociedades ditas pós-modernas, a saber, sofre-se hoje de um enfraquecimento da palavra. Um enfraquecimento do poder de se comprometer com aquilo que se diz.

A palavra se enfraqueceu como fruto do mesmo movimento que dá início à chamada “queda das utopias” na cultura ocidental. O mundo que sobra como resto da segunda grande guerra é um mundo descrente da idéia de uma humanidade em constante progresso moral. Quarenta anos depois, a queda do muro de Berlim, tomada como marco histórico do fim da “guerra fria”, simbolizava o desfalecimento de um mundo até aquele momento dividido ideologicamente de forma clara — onde bastava escolher um lado para ter-se escolhido também o seu inimigo. Da abertura na Rússia (Perestróika) ao fenômeno chinês, o que se mostra é um mundo cada vez mais desenhado como um imenso bloco capitalista e por que não dizer, ocidentalizado.

Muito já se explorou sobre as conseqüências sociais de uma geração nascida num contexto onde faltam às utopias sociais. Que tipo de sujeito é esse que não acredita em nenhuma grande ideologia social? É possível pensar em cidadania, falar de ação social num mundo onde o principal desejo de um jovem é poder exibir a grife da moda? Que tipo de sociedade surge daí? Que tipo de humanidade? Que tipo de política? Que garantia temos? Que esperança?

De fato o que se perde na queda das utopias são duas coisas: a garantia da esperança e a esperança de uma garantia. Essas perdas fazem surgir na nossa sociedade, basicamente, dois fenômenos, duas vertentes de uma mesma angústia: o fundamentalismo e o cinismo. O fundamentalismo é uma negação pela via do “não pode ser”. “Não pode ser que não haja garantias!” E sendo assim, eu me agarro por decreto em qualquer discurso que a prometa. Nego a perda da garantia da esperança, com algo que possa de alguma forma iludir, dissimular a sua ausência. Os fenômenos eleitorais americanos dão bem o tom do que falo aqui. Bush foi reeleito com base num discurso fundamentalista e conservador (se ele acredita nisso é uma outra história).

O cinismo por sua vez é uma resposta angustiada à perda da esperança de uma garantia. No cinismo não se crê mais em garantias. Não se crê que alguém vá mesmo cumprir o que disse. Não se crê mais que o mundo possa ter solução. Não se crê que alguém vá ser punido por contrariar a lei. O exemplo proveniente do senado federal é no mínimo emblemático – o presidente Renan Calheiros não se sente obrigado, nem, muito menos, constrangido a responder de forma clara às acusações que lhes são imputadas. Para ele, basta o ditado de que uma mentira dita cem vezes torna-se verdade.

No cinismo a lei e a moral são fracas, assim como a palavra. Se não há garantias, também não há compromisso. Não há por que se comprometer com nada. Neste caso pode-se pensar nas últimas eleições municipais brasileiras, muito marcadas por uma atitude cínica para com o quadro eleitoral e personificada na opção pelo voto nulo e pela abstenção. O voto nulo e abstenção podem ser expressões de uma posição política bastante consciente. No entanto, essa via pode caracterizar, não uma convicção de protesto, mas, simplesmente, uma atitude do tipo “eu não tenho nada a ver com isso” — um ledo engano. Este tipo de participação política torna-se, então, servo de um desejo de não se comprometer nunca, para poder sempre lançar um olhar sarcástico do tipo “eu-sabia-que-ia-dar-errado”.

Contudo, a queda das utopias e a perda da esperança numa ideologia que garanta em si mesmo um mundo melhor não precisa nos lançar nem no fundamentalismo e muito menos no cinismo. O tipo de resposta às questões deste nosso tempo não precisa variar entre um radicalismo cego e intransigente por um lado e um desleixo cínico e descomprometido por outro.

De fato, a descrença em uma garantia externa pode e deve fazer com que cada um construa e contribua para um mundo melhor. O fato de haver pouca possibilidade de que o mundo venha a se tornar um lugar perfeito não significa que nada possa ser feito nem que não haja motivos para que algo seja feito.

Mais ainda, se não tenho mais ninguém em quem colocar a culpa posso assumir a minha responsabilidade na história pessoal e coletiva. Posso assumir que de fato minhas escolhas podem ser equivocadas. Assumir que, de fato, o meu candidato pode me trair. No entanto, posso assumir também que a minha alienação e esquiva contribuirão apenas para que nada seja feito. Assumir que meu papel na história implica em (por que não?) desejar e lutar para que outros se comprometam com aquilo que lhes cabe. Mas, acima de tudo, assumir que a covardia não está somente no medo da luta, mas também na artimanha da esquiva.

Emmanuel Mello