segunda-feira, 10 de setembro de 2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Drogas e juventude: um mal-estar contemporâneo*

A droga tem sido vista como o grande problema social e como o grande temor de todos os pais e responsáveis. A cada semana somos inundados por toda sorte de estatísticas, notícias dos mais variados tipos e com as mais variadas soluções, além de inúmeras cartilhas e manuais de prevenção. É tanta informação que ninguém sabe mais o que fazer.

Há mesmo um mal-estar generalizado.

As famílias, culpadas, buscam desesperadamente uma solução ou mesmo uma forma de evitar o problema. As escolas tentam ensinar aos pais como descobrirem um usuário em casa e os professores não sabem o que fazer com o “garoto-que-usa-maconha” ou com a “menina-que-bebe-demais” – isto quando eles estão nas escolas. Na rede de saúde são evidentes os estragos físicos, psicológicos, familiares e sociais destes que cada vez mais cedo fazem um uso abusivo de drogas e de álcool.

Sinais dos tempos. A droga tem surgido como o emblema do modo contemporâneo da sociedade e dos jovens gozarem a vida. Nada mais lógico que numa era onde a promessa de ser feliz com os objetos de consumo, a droga, algo que também se consome, se compra, mesmo que para isso tenha-se que roubar, é certamente o ícone do objeto que traz a felicidade.

O paradoxo é que nessa busca por um objeto que satisfaça quem toma o lugar de objeto é o sujeito. Isto fica claro na toxicomania.

Há os que se drogam para acabar com a angústia e com a infelicidade. Há os que se drogam para serem aceitos ou reconhecidos e até mesmo os que se drogam para serem alguém. Há os que se drogam ou porque os pais não são presentes, ou porque os pais são presentes demais. Há os que se drogam pra serem diferentes e há os que se drogam para serem iguais.

Há os que se drogam para ficarem “muito loucos” e há os que para não enlouquecer, se drogam. Essa lista pode ser infinita, pois cada um faz um uso muito particular de seu sintoma.

Mas afinal, o que pode ser feito para livrar nossos jovens dos efeitos nefastos da droga e do álcool? Qual o papel dos pais neste processo? Qual o papel do Estado e das entidades públicas?

E é justamente para discutir estas e outras questões que o CAPS-ad (Centro de Atenção Pisicossocial para usuários de álcool e outras drogas, um serviço do Sanatório Espírita Vicente de Paulo em parceria com a Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto) estará realizando nos dias 14 e 15 de setembro, num dos auditórios gentilmente cedidos pelo Sistema COC de Ensino na rua Lafaiete, 261, o simpósio “Juventude e drogadição: um mal-estar contemporâneo”.

Trata-se de um evento importantíssimo para a elaboração de uma prática mais esclarecida no que diz respeito à atenção ao jovem usuário abusivo de drogas. Informações pelo 3615-3336.

Emmanuel Mello

Psicanalista e Psicólogo da Equipe Multidisciplinar do CAPS-ad/RP

* Publicado no Caderno C, Boas idéias da edição de domingo, dia 02/09/2007 do Jornal “A Cidade” de Ribeirão Preto